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Quantas vezes podemos amar?

Esses dias, tive uma conversa com algumas amigas que me fez refletir bastante sobre um tema: quantas vezes alguém pode verdadeiramente amar? Existe um número limite de pessoas?

Na minha percepção, o amor é algo muito subjetivo e intangível. E não apenas o amor, mas todos os sentimentos que fazem os seres humanos se diferenciarem dos animais. Talvez a capacidade de identificar cada um desses sentimentos e nomeá-los com palavras seja justamente a consciência que nos torna seres pensantes. Independentemente disso, acredito que esse desejo de encaixar essas coisas em pequenas caixinhas de linguagem seja um modo covarde de enfrentar todo o furacão interno da sensibilidade. Encontramos conforto em nos prender a conceitos simples e, assim, deixamos de vislumbrar a liberdade de sentir e de existir.


Cada vez mais, e talvez essa seja uma das grandes problemáticas da nossa geração, estamos evitando construir relações profundas e duradouras, baseando-nos em regras socialmente construídas sobre a “receita do relacionamento perfeito”: a regra dos três meses, a regra dos três amores, a regra disso e daquilo. Como o amor, algo tão complexo que fez os gregos discutirem por séculos, criando subdivisões e variações a seu respeito, acabou se tornando visto de maneira tão supérflua e limitante?


A crença de que só se ama uma vez na vida é, na verdade, uma visão reducionista e até romantizada em excesso, que ignora a complexidade da experiência humana. O amor não é um evento único e imutável, mas um sentimento dinâmico, que se transforma conforme crescemos, amadurecemos e nos relacionamos com pessoas diferentes, como estudado e desenvolvido por Zygmunt Bauman. Reduzir o amor a um único episódio é negar a nossa capacidade de reconstrução emocional, de ressignificação das experiências e de abertura para novas conexões, sendo, inclusive, um descaso com a complexidade contida no ser humano.


Quero viver minha vida e construir minha personalidade consciente de que sou um mosaico de todas as pessoas que me amaram e que eu amei. Quero a liberdade de plantar minha essência na vida das pessoas e regar essa semente com gestos que as façam lembrar de mim quando a nostalgia bater, oferecendo-lhes uma simples felicidade capaz de retirá-las, ainda que por um instante, de um lugar de tristeza.


Não quero um limite para quantas vezes posso me apaixonar. Quero poder me expressar por completo, sem medo de me permitir sentir cada nuance da vida: tristeza, felicidade, frustração, nervosismo, medo, esperança. Quero a possibilidade de acordar todos os dias, abrir minha janela e recomeçar, como se a cada manhã pudesse me redescobrir e me reinventar. Quero sentir a intensidade de cada momento, valorizar as pequenas coisas e aprender: de novo, de novo e de novo. É nesse vai e vem de emoções que encontro a tão complexa humanidade, que me faz ser inteira, verdadeira e viva.

 
 
 

3 Comments


anazaa
Sep 12

Muito poético, um reflexo honesto da superficialidade da sociedade atual!

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Que perfeição!! Amei muito!!

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Amei! Inspirador.


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